Este
texto foi escrito para você, que neste momento passa por problemas com seu
filho, ou até mesmo conhece alguém que esteja nessa situação. Aliás, coisa cada
vez mais corriqueira nos dias de hoje. Quando paramos para pensar na nossa
infância (para aqueles que têm mais de 30 anos), ficamos chocados com o que
vemos. Crianças desde a mais tenra idade desafiando seus pais que vêm sendo
feitos reféns dessas criaturinhas. Sou mãe, tenho dois filhos homens (26 e 23
anos) e não posso citar um único momento em que passei vergonha com eles. Sim,
vergonha: essa é a palavra, pois muitos pais ficam completamente constrangidos
diante de seus “anjinhos” em determinadas situações.
Para saber isso, basta olhar ao redor. Verdadeiras
guerras psicológicas são travadas em ambientes públicos (restaurantes,
supermercados, escolas, lojas), com acessos de birra, gritos e palavrões,
deixando os pais sem ação diante da situação. A única coisa que vem à cabeça é
exatamente aquela que não deveria ser pensada: ceder.
Pois
é, a palavra “ceder” parece a única coisa a ser feita para desarmar o circo e
acabar com a plateia que assiste admirada ao desfecho do show. Uns olhando com
tom de desaprovação, achando aquilo tudo um absurdo, outros com olhar
penalizado, seja para os pais ou para aquela criança. O embaraço é geral e a
vontade dos pais é a de que se abra um buraco enorme, para que lá possam se
enfiar...
Felizmente, nunca passei por essa situação
vexatória com meus filhos. Fui mãe com 22 anos e, quando paro para pensar, vejo
que usei muito da minha intuição. Claro que poderia ter feito coisas diferentes
em muitos momentos, mas no geral me considero uma boa mãe.
Além de mãe, sou professora e lido diariamente
com crianças e adolescentes na escola em que trabalho. A angústia em relação ao
comportamento abusivo das crianças frente aos pais acaba refletindo no ambiente
escolar. Quando iniciei minha carreira no magistério, as coisas não eram bem
assim. O que mudou? Sempre me faço essa pergunta, afinal, é um problema que vem
aumentando e tomando proporções assustadoras.
Há
muitos anos, as famílias eram estruturadas de uma forma mais ou menos parecida:
pai (o provedor), mãe (a cuidadora e amorosa) e os filhos. Sem grandes traumas,
obedecia quem tinha juízo, afinal, o pai seria comunicado à noite de qualquer
desobediência. O castigo poderia ser físico (umas palmadas) ou ficar sem algo
de que gostassem muito. Não estou aqui fazendo apologia aos castigos físicos,
apenas relatando uma realidade que existia na maioria das famílias.
Muitas
pesquisas são feitas para determinar o tipo de família hoje existente. Vou me
ater à minha experiência pessoal, uma vez que estou mergulhada nesse processo e
vivenciando os avanços e retrocessos dessas mudanças. Livros e mais livros são
vendidos no Brasil falando sobre filhos, como educá-los, prepará-los para o
futuro e por aí vai. São bastante procurados, demonstrando o quanto os pais
estão perdidos nesse processo de educar uma criança.
Não
vou prometer aqui um manual de instruções, pois as crianças não vêm com um
quando nascem. Aliás, o que os pais mais me pedem são “receitinhas prontas” de
como educar os filhos, como se isso fosse possível.
Não existem receitas prontas, mas existem
algumas coisas que podem ser feitas para que a educação de nossos filhos não
acabe de maneira desatrosa e nos fazendo querer abrir um buraco no chão cada
vez que somos colocados em uma “saia justa”. Porém, elas dependem de uma única
coisa: VOCÊ!
De
acordo com Tiba (2011), existe uma grande diferença entre “criar” e “educar” um
filho. Percebo essa dificuldade nos pais hoje em dia. Eles chegam na escola
completamente perdidos, não sabendo mais o que fazer para serem respeitados.
Quando questionados, dizem que fazem de tudo, não deixam faltar nada, tudo que
o filho pede é prontamente atendido. Ainda segundo Tiba: “Neste ponto, os pais
erram quando poupam seus filhos e lhes dão tudo pronto, deixando-lhes um
usufruto a custo zero, e perdem a oportunidade de educá-los”. ( 2011, p. 84).
Depois não entendem a rebeldia e a falta de limites. Criar é dar a ele
condições de sobreviver, alimento, roupas, abrigo, carinho. Educar é transmitir
valores, capacitando-o para viver em sociedade, impondo regras, dando exemplos
positivos.
Ouço
essa história já há uns 10 anos e confesso que fico ainda perplexa. Não é
possível que os pais não entendam que dar tudo aquilo que o filho pede não está
certo. Hoje o pedido é algo simples, mas crianças crescem e acabam se
transformando em “monstros consumidores”, que se não forem atendidos, irão
atrás de satisfazerem suas necessidades, alimentadas pelos pais que não
souberam dizer um ‘não’ quando era preciso.
Este
“não” deve vir sempre junto de um “porquê”. O não sozinho dá ideia de que hoje
não, mas amanhã talvez. Os pais devem estar cientes de que apenas uma negativa
não será suficiente. Nem sempre aquele pedido vem atrelado a uma necessidade.
Muitas vezes, ou na maioria delas, o filho quer algo simplesmente porque seu
amigo tem. E se for atendido, sempre que nos olharem com aquela carinha linda,
estaremos encurralados, pois as crianças sabem manipular muito bem um adulto
quando querem. Não são aqueles “anjos” que achamos, podem acreditar.
Aquele
bebezinho lindo, gordinho, cheio de dobrinhas que batia em seu rosto e todos achavam
bonitinho cresceu. Nunca lhe foi ensinado que bater era errado. Ele cresceu
achando que era normal e resolve continuar batendo no rosto das pessoas e
esperando aprovação. Isso parece óbvio demais, mas muitos pais não enxergam
além, vendo naquele gesto apenas uma forma de demonstrar carinho. E as
consequências posteriormente aparecem, muitas vezes, de uma maneira dura e
real. Quando de fato educamos um filho, devemos mostrar-lhes desde muito cedo o
certo e o errado. Já presenciei cenas de arrepiar, bebês chorando loucamente
quando são colocados no berço e a mãe (quase sempre é ela) desesperada tentando
acalmar o choro. Aquele choro manhoso, que rapidamente para quando sua vontade
é atendida. Raciocinem comigo: se fosse de fato uma dor ou incômodo, o choro
cessaria tão prontamente?
Muitos
pais têm medo de causar algum tipo de trauma, achando que se negarem algo ao
filho este o odiará. Bobagem! Filhos querem e necessitam de limites. Precisam
de referências e de saber até onde podem ir. Portanto, a palavra limite
deve ser uma constante na vida de pais que querem acertar. Costumam me questionar a respeito de como
consigo manter minha sala de aula tão silenciosa. Quando alguém bate na porta e
entra, costuma perguntar: “Estão em prova?”. Respondo com uma negativa, afinal,
a sala de aula deve ser um ambiente tranquilo e sem gritarias. É um local de
reflexão, concentração. Todos ali devem entender que estão juntos em um mesmo
ambiente. Falar baixo, ser organizado, ter bom senso e acima de tudo, respeito
pelo colega e pela professora. Consigo isso através de uma relação baseada na cumplicidade
e no diálogo. Eu respeito-os e eles a mim.
Ouço com frequência dos meus alunos que se
tirarem boa nota ganharão algo: um passeio, videogame novo, celular. Fico
tremendamente contrariada quando escuto isso de uma criança, pois esse tipo de
coisa é inadmissível. A criança precisa entender que não existe troca quando o
assunto é estudar, comportar-se bem, ser um bom filho. Todas essas coisas são
consequências que virão naturalmente, sem necessidade de haver uma troca. Converso
muito sobre isso com eles e nas reuniões com os pais procuro deixar isso bem
claro.
Sejam
pais participativos. Procurem saber da vida de seus filhos, como foi seu dia,
se podem ajudar em algo. Muitos pais esquecem disso e quando o filho estiver na
adolescência será mais complicado para recuperar o que foi perdido. O diálogo
deve existir sempre, é uma conquista diária, um laço que tende a se solidificar
com os anos. Filho precisa confiar nos pais, entender que podem contar com
nosso apoio e com nossa “bronca” se for o caso. Mas, para isso, você precisa
ser um exemplo.
Não
é fácil ficar centrado o tempo todo, como se fôssemos monges budistas em busca
da Iluminação. Sofremos com o estresse do dia a dia, contas para pagar,
trânsito caótico, mau-humor, etc. Há dias em que é complicado respirar fundo e
dar atenção ao filho, mas, isso precisa ser feito. Nem que seja por alguns
momentos, mas devemos encontrar um ponto de equilíbrio e fazer o que parece ser
impossível: deixar os problemas de lado e olhar nos olhos daquele que está na
nossa frente. Cury nos diz que: “Reeditar é um processo possível, mas
complicado. A imagem que seu filho construiu de você não pode mais ser apagada,
só reeditada. Construir uma excelente imagem estabelece a riqueza da relação
que você terá com seus filhos”. ( 2003, p. 23).
Portanto, vale a pena tentar!
Se
você chegou até aqui está de parabéns, isso demonstra o quanto está motivado a
fazer a diferença na vida de seu filho ou de alguém que conhece e ama muito.
Você é demais... Um elogio é sempre bem vindo, não acham? Também adoraria saber
que estou agradando um leitor e mantendo sua atenção, em meio a tudo que está
acontecendo ao seu redor nesse momento: buzina de carro, barulho de televisão,
música alta, crianças gritando, celular apitando. Nós somos movidos pelo
elogio. A criança quando faz algo que achamos bonitinho tende a repetir a ação
muitas vezes. Se for uma ação positiva, ótimo. Mas se for negativa, ela
repetirá sempre que sentir nossa aprovação. Novamente vou citar o bebê gordinho
e cheio de dobrinhas que batia no rosto do papai. Certamente vocês já viram
crianças fazendo algo repreensível e os pais achando tudo lindo, filmando,
tirando fotos, batendo palmas e simplesmente fixando naquela criança um
comportamente socialmente inconveniente. Essa criança irá crescer e obviamente
reproduzirá esse comportamento. De nada vai adiantar os pais brigarem, pois, na
cabeça da criança o que ela faz está certo.
A
boa notícia é que o contrário também acontece. Elogiar um bom comportamento
terá o mesmo efeito. Aquela criança que entra na sua sala e pede “com licença” ou
quando lhe fazemos algo nos olha e diz “obrigada” nos faz quase cair para trás,
pois o que vemos hoje em dia é bem diferente disso. Pensamos: “ Minha nossa, o
mundo ainda tem jeito”. Essas crianças foram elogiadas quando fizeram isso e
acabaram tornando esse ato um hábito. É normal ser gentil e educada e, cá entre
nós, não existe coisa mais linda do que uma pessoa educada. Existem pessoas que
estudaram pouco, trabalham pesado, em profissões humildes, mas de uma educação
que encanta e emociona.
Se
você teve seus pais próximos a você na infância deve ter ouvido inúmeras vezes
esta frase: “ Devemos sempre respeitar os mais velhos”. Basta ligar a televisão
para nos deparamos com notícias terríveis de espancamento de jovens, crianças,
animais. O mundo parece estar de ponta-cabeça. Tudo isso teve uma origem.
Aquela pessoa que espanca outra pessoa já foi uma criança. Talvez tenha sido
criada em um lar em conflito, com pessoas sendo agredidas, fazendo uso de
drogas e bebida alcoólica. Famílias desestruturadas acabam criando filhos
rebeldes e sem nenhum parâmetro social. Mas esse fato ocorre também nas
famílias ditas “estruturadas”, com um poder aquisitivo razoável, com
responsáveis tendo cursado uma boa universidade. O respeito pode existir
sempre, não importa o poder aquisitivo nem tampouco o grau de instrução.
Respeito é algo que se aprende através do exemplo. Se eu sou respeitado, eu
aprendo a respeitar. Simples assim.
Os pais precisam estar unidos da educação de seu filho. Hoje em
dia, muitos casais não vivem mais juntos e os filhos se aproveitam dessa
situação. Normalmente a criança fica com a mãe e esta deve agir com firmeza,
exercendo sua autoridade ao máximo. Nos finais de semana, quando a criança vai
para a casa do pai, tudo é permitido, não existem regras, apenas diversão. Não
existe um ponto de equilíbrio e a mãe passa a ser a “bruxa má” da história.
Situações assim são comuns e não deveriam acontecer. O relacionamento acabou,
mas o filho será para sempre um vínculo entre as duas pessoas. Quanto mais
saudável e respeitosa for essa relação, melhor será para seu filho.
Espero
até agora estar conseguindo manter você atento a essa leitura. Não prometi um
manual de instruções, mas disse que daria dicas importantes. Manter a palavra é
algo sério e deve ser cumprido à risca. Assim é com nossos filhos. Se você diz
uma coisa e faz outra rapidamente, será pego em flagrante, pois criança tem uma
sensibilidade enorme para captar essas vaciladas que damos. Cuidado com as
palavras e com seus atos. Se não houver sintonia entre eles, tudo cairá por
terra. Sempre digo para meus alunos que sou professora 24 horas do meu dia.
Sinto-me constantemente observada e sei que sou de fato observada. Eles
me questionam se fumo, se saio para ir a bares, observam minha roupa, minha
forma de agir, se faço uso de maquiagem. Assim são nossos filhos. Como dizer: “
Leia meu filho, ler é importante para sabermos as coisas”, se nunca fui vista
por ele com um livro nas mãos. Essas contradições são frequentes entre os pais
de meus alunos. Eles querem que os filhos façam o que eles não fazem.
Educar,
portanto, exige muita paciência e entrega. Ter filhos não é meramente colocá-los
no mundo. É algo que deve ser planejado cuidadosamente, pois é extremamente bom
ser mãe. Digo isso sem medo de estar sendo piegas. Uma das maiores realizações
da minha vida tem nome: meus filhos.
Mas,
se você enfrenta problemas com seus filhos, saiba que para tudo existe uma
solução. Existem muitos profissionais dispostos a ajudar, mas para isso, é
preciso aceitar que existe a dificuldade e ir ao encontro da solução. Muitas
crianças são rotuladas de agressivas, mal-educadas, preguiçosas, desatentas e
por trás pode existir algo neurológico, algum transtorno que impede essa
criança de agir de maneira diferente. Isso existe e é bastante comum nos dias
de hoje.
Tive
um aluno que veio com histórico preocupante. No início do ano, quando passaram
a lista de chamada me alertaram sobre ele. Uma criança agressiva, agitada, sem
limites e cujos pais não pareciam estar muito preocupados. Como professora,
acabei desenvolvendo em mim um lado bastante observador e deixei aquele aluno
na dita “quarentena”. Observava-o em sala, no recreio, nas aulas de educação
física, no momento que os pais vinham buscá-lo na escola. Depois de algumas
semanas pude ter uma noção do que conversar com os pais e chamei-os para uma
reunião. Os pais vieram e me pareceram bastante apreensivos, uma vez que seu
filho já vinha sendo rotulado de diversas coisas. Ouvi o que me disseram e
perguntei sobre a gravidez, os primeiros dias, meses e ano. Os pais ficaram
surpresos, pois até então nenhum professor havia questionado a respeito.
Colocando-me
na condição de ouvinte e em nenhum momento fazendo críticas, descobri que o
menino, até seu primeiro ano, havia tido crises de otite (infecção no ouvido)
quase que frequentes. Chorava muito e os pais costumavam utilizar remédios
caseiros para as crises. Solicitei que fossem a um otorrinolaringologista, que
após um exame constatou baixa audição. Uma criança que gritava, era agressiva e
não ouvia bem, após um tratamento e colocação de um dreno (tubo colocado dentro
do ouvido) para retirar as secreções, ficou mais calma e conseguiu acompanhar
melhor as aulas, não sendo mais tão criticada e desenvolvendo um bom
relacionamento para com todos os demais colegas da classe.
Fiz
esse relato para ilustrar que nem sempre devemos castigar nossos filhos. Muitas
vezes, eles não sabem ser diferentes simplesmente porque não conseguem. Alguns
pais ficam frustrados, dizem que deram uma boa educação, com limites bem
estabelecidos, mas mesmo assim o filho não corresponde.
Devemos
descartar sempre se existe algum tipo de patologia (doença) ou transtorno, para
depois agirmos de modo a corrigir a atitude de uma criança. Para isso, contamos
com a ajuda de muitos profissionais, principalmente, com a ajuda do professor,
pois é ele quem fica a maior parte do tempo com seu filho e pode apontar
caminhos para minimizar as dificuldades. Por isso, ouça-o, tenha o professor de
seu filho como aliado, um amigo em que você deve confiar.
Se
você conseguiu chegar até aqui, parabéns! Vamos finalizar com uma lista de
verbos que devem estar presentes na sua vida para lidar com uma criança: ouvir,
dialogar, exemplificar, respeitar, elogiar, cumprir, estudar, planejar,
estabelecer e, acima de tudo, AMAR!
BIBLIOGRAFIA
CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio
de Janeiro: Sextante, 2003.
TIBA, Içami. Pais e Educadores de Alta Permormance.
São Paulo: Integrare, 2011.
Leila Bambino, graduada
em Pedagogia com especializações em Psicopedagogia Institucional/ Clínica e
Educação Especial. Na área clínica atuei durante 5 anos e como professora
exerço a profissão há 20 anos em uma escola pública estadual na cidade de
Blumenau – Santa Catarina. Sou tutora de alguns cursos à distância, sempre envolvendo
temas relacionados às crianças, adolescentes e terceira idade e sou membro da ABPp SC ( Associação Brasileira de
Psicopedagogia) em meu estado.